Stu Mackenzie, do King Gizzard, sobre largar o Spotify e liberar tudo de graça: "A gente esquece que tem livre-arbítrio"
- Olivia Lancaster

- 19 de out.
- 3 min de leitura
A banda australiana tirou todo o catálogo do streaming em protesto contra os investimentos militares do CEO. E o vocalista explica: a decisão foi fácil. Porque no fim das contas, fazer música com os amigos é o que realmente importa.

King Gizzard and the Lizard Wizard é tipo aquele amigo que muda de ideia mais rápido que você troca de série na Netflix. Em 15 anos de carreira, já lançaram 27 álbuns — isso mesmo, vinte e sete — e mudaram de estilo tantas vezes que fica até difícil rotular.
Banda de rock psicodélico? Até dá pra começar por aí. Mas aí você descobre que eles já fizeram metal, folk, jazz, música eletrônica, discos com conceitos que parecem tese de mestrado, afinações microtonais (não pergunte) e, só neste ano, fizeram turnê com show orquestral, rave, apresentações em prisões e anfiteatros pela Europa.
Resumindo: essa turma não para quieta.
O protesto que ninguém esperava
Em julho, eles deram mais uma cartada inesperada: tiraram tudo do Spotify. Motivo? O CEO da plataforma, Daniel Ek, investiu €600 milhões (quase R$1 bilhão em reais) numa empresa de tecnologia militar com inteligência artificial. A galera não gostou, e a resposta foi direta: tchau, Spotify.
"A gente faz um monte de coisa diferente ao longo dos anos, mas às vezes você esquece que tem livre-arbítrio — tipo, você pode fazer o que quiser", disse Stu Mackenzie, vocalista e líder não-oficial da banda, em entrevista por telefone. "Não quero começar um movimento nem nada. Mas pra gente, foi uma decisão sobre nossa música e sobre o que achamos certo ou errado. Resolvemos sair fora e lidar com as consequências depois."
Ele dá uma pausa. E solta: "Sendo que não teve muita consequência, não… ninguém pareceu se importar tanto assim."
A inspiração veio de perto
A ideia de sair do Spotify foi inspirada por Leah Senior, musicista de Melbourne, amiga próxima e colaboradora do grupo. Ela saiu antes, e Stu ficou impressionado.
"Eu disse pra ela que estava muito orgulhoso, que achei incrível", conta. "É lindo, sabe? Você olha pra alguém fazendo algo diferente e pensa: 'Que coragem'. Admiro muito isso."
A única preocupação da banda era com acessibilidade. Afinal, o Spotify é a maior plataforma de streaming do mundo, e muita gente usa a versão gratuita (com anúncios) ou paga relativamente pouco pela premium.
Mas aí o King Gizzard encontrou uma solução bem deles.
Tudo de graça no Bandcamp
Ao mesmo tempo que removeram as músicas do Spotify, eles liberaram o catálogo inteiro — 27 álbuns de estúdio, 64 álbuns ao vivo, três EPs e cinco compilações piratas — no Bandcamp, no esquema "pague o quanto quiser". Ou seja: de graça, se você quiser.
"Não foi uma grande mudança, na real", diz Mackenzie. "A gente já usava muito o Bandcamp. A maioria dos nossos álbuns ao vivo saiu por lá primeiro."
Ele lembra que em 2017 eles lançaram o álbum Polygondwanaland em domínio público e até incentivaram os fãs a prensarem suas próprias cópias em vinil. Então liberar tudo de graça? Meio que faz sentido com o DNA da banda.
"O Bandcamp é um lugar bem legal. Seria massa se a gente conseguisse levar mais gente pra lá e elas descobrissem outras músicas incríveis na plataforma", diz. "Ele sempre foi importante pra história do King Gizzard. Fico feliz que quem ouve a gente passe mais tempo por lá."
E o dinheiro?
Stu diz que não sabe exatamente quanto a banda ganhava com o Spotify, mas garante: "É pouco."
A verdade é que, apesar de alguns artistas faturarem bem com streaming, a maioria dos músicos em atividade depende mesmo é de turnês, venda de produtos e vinil. E a música do King Gizzard continua disponível em outras plataformas, como Apple Music e Tidal.
No fim das contas, parece que a banda tá de boa. Fazendo o que sempre fez: música com os amigos. E agora, sem o Spotify no meio do caminho.
Fonte 📌 The Guardian
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