Nick Cave, fé em carne viva e canções que não dão respostas fáceis
- Olivia Lancaster

- 6 de dez.
- 1 min de leitura

Nick Cave’s Veiled World, novo documentário exibido pela Sky Arts, foge da cartilha das biografias musicais tradicionais. Em vez de alinhar datas e discos, o filme prefere olhar para um ponto menos confortável da trajetória do músico: sua relação cada vez mais explícita com a fé cristã, tratada não como símbolo estético, mas como conflito real.
A produção reúne depoimentos de nomes como Flea, Florence Welch, Wim Wenders e Warren Ellis, além de uma participação surpreendente de Rowan Williams, ex-arcebispo de Canterbury, que fala sobre alegria, sofrimento e espiritualidade com mais contundência do que muita crítica musical por aí. Curiosamente, Nick Cave quase não aparece em cena, surgindo mais como voz e presença simbólica do que como personagem central.
O documentário revisita canções intensas e perturbadoras que ajudaram a construir sua fama, mas se concentra sobretudo no Cave do presente. Um artista marcado pela morte do filho, Arthur, e pelo impacto desse luto em trabalhos recentes como Ghosteen, onde dor, silêncio e busca por sentido caminham lado a lado. Aqui, Deus não surge como resposta confortável, mas como pergunta permanente.
Há espaço para a provocação que sempre acompanhou Cave, mas também para a compaixão que hoje define sua obra pública, especialmente em projetos como The Red Hand Files, onde ele assume um papel quase pastoral, ainda que cheio de ironia e humanidade.
No fim, Veiled World acerta ao não tentar explicar tudo. Ao invés disso, apresenta um artista que abandonou a pose de profeta maldito para encarar algo bem mais radical: a ideia de que fé, perda e arte não se resolvem, apenas se atravessam.
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