Foo Fighters volta à cena com música inédita em meio a turbulências e celebração de 30 anos
- Dante Azevedo

- 2 de jul.
- 2 min de leitura

O Foo Fighters não apenas sobrevive — ele persiste, mesmo quando todos os ventos sopram contra. Após meses de silêncio forçado por escândalos e reviravoltas nos bastidores, a banda liderada por Dave Grohl reaparece com um novo single, “Today’s Song”, em plena comemoração pelos 30 anos de seu álbum de estreia. A canção, lançada nesta quarta-feira (2), é a primeira inédita desde o disco But Here We Are (2023), que havia sido concebido como resposta à perda de Taylor Hawkins, baterista e alma pulsante do grupo, morto em 2022.
A nova faixa chega embalada por uma carta aberta escrita por Grohl — uma espécie de confissão emocional com cheiro de mofo de porão e saudade de estrada. Nela, o vocalista transforma uma memória de Ação de Graças de 1994 em mitologia pessoal: a noite em que conheceu Nate Mendel e, com ele, deu os primeiros passos para formar a banda. Com nostalgia temperada por assombração (literal — um tabuleiro Ouija dá o tom do início do texto), Grohl reconta o nascimento do Foo Fighters como quem revisita um velho diário, manchado de vinho barato e fita cassete.
A carta, longa como a estrada que a banda percorreu, alterna lembranças íntimas, agradecimentos sinceros e confissões públicas sobre perdas, cicatrizes e reconciliações. Sem fugir dos fantasmas recentes — incluindo a demissão de Josh Freese e o escândalo envolvendo sua vida pessoal — Grohl os contorna com lirismo, buscando abrigo na metáfora da lagosta que troca de carapaça para crescer. O recado é claro: o Foo Fighters é um organismo em mutação, que insiste em existir mesmo quando o mundo parece querer desmontá-lo.

“Today’s Song” é, então, menos um comeback do que um manifesto — ou talvez um pedido de trégua entre quem faz a música e quem a escuta. Com versos que falam sobre atravessar rios e se afogar no meio, a faixa carrega o peso de uma banda que já viu demais, perdeu demais, mas ainda assim escolhe seguir. Há dor, mas também há um tipo de fé, quase juvenil, na capacidade de reconstrução.
Trinta anos depois daquele jantar de Ação de Graças em uma casa mal-assombrada, o Foo Fighters segue como uma dessas árvores que Grohl tanto menciona — com raízes fundas o bastante para resistir à tempestade. E, mesmo rachado por dentro, o tronco ainda se mantém de pé. Porque há algo de inquebrável no que nasceu como brincadeira entre amigos e virou refúgio para milhões. A música de hoje, afinal, é só mais uma entre tantas. Mas, para quem sabe escutar, pode ser tudo.
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